O telefone não toca. E não é voce. Antes de qualquer ensaio de sofrimento à toa, advirto:
Ainda não é o sentimento do desprezo. É o efeito da pane telefônica com o nono número dos telefones de São Miguel do Oeste.
Consolação preventiva à parte, é o domingo que pega.
Repito e repito: É o domingo que dói como um gol contra aos 47 do segundo tempo.
O sábado é uma ilusão, como dizia a psicóloga.
O sábado, creio, é uma ressaca cantada de véspera.
O sábado é um embalo de desespero para corações solitários. Seja com um brega na radiola ou seja com um Sonic Youth.
O sábado
é uma baixaria, um sábado bêbado e desajeitado. A tentativa de um sorriso
que não cola, não ajusta, não molha. As pernas também não se
entrelaçam. O drama do entrelaçamento das pernas. Um desastre, um teatro
de amadores.
O sábado é um arrependimento.
O sábado é um jantar fino entre casais – essa gente que janta, que ama jantar fora e pagar caro por um chéf qualquer de grife.
O sábado
é apenas a ressaca mais óbvia que sentimos agora e nos faz odiar aquele
almoço previsto para a casa da sogra.
O domingo, não.
O domingo pega.
Principalmente
para quem perdeu o amor há pouco tempo. Como dói o almoço domingueiro
nestas ocasiões. Nem vale um almoço. A este tipo de solidão a gente
alimenta com miojo ou com a pizza gelada da tentativa amorosa que o
sábado prometera e não cumpriu o delivery.
Domingo dói como aquele golzinho fanhoso que ouvimos no rádio do porteiro.
Melancólico
como aquele operário que põe só os olhos de fora na janelinha de
compensado de mais um prédio em construção.
O
domingo é um perigo. Você pode cair na fraqueza e ligar para ele. Que roubada. Justamente ele que talvez já está dando belas
risadas na sobremesa. Sim, eles estão pagando a
conta e vão ao cinema.
O domingo é a grande prova.
Acordar cedo e capotar antes de escurecer, liquidar logo a ideia de um arrastado e tenebroso domingo.
Tudo para não chegar acordado àquela hora em que ecoa no prédio a musiquinha do Fantástico.
Claro
que existem os anormais, os destemidos e saudáveis que aproveitam o dia,
vão ao parque, sorriem bonito, fingem que não sentem as formigas da
existência provocando calombos do tédio e da ideia de finitude.
Para os desprotegidos desses escudos, o bicho pega, o vira-lata domingueiro morde a canela.
No
começo de namoro o santo domingo consegue até ser o dia mais incrível.
Óculos escuros, mãos dadas, todo mundo lindo, a única dúvida existencial
é escolher o lugar do almoço.
No fim
do amor, nuestra madre, nos endomingamos tragicamente. Nos pegamos, na
forma mais maluca do mundo, torcendo pelo dia seguinte.
Só dois
tipos de criaturas conseguem essa maluquice de não ver a hora de chegar a
segunda-feira: Os que estão arrasados pelo apocalipse amoroso; Os
casados que têm amantes na firma.
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