Sentada na sacada 1x1 que nesse momento parece ter o maior tamanho do mundo, a tua unica companhia eh a cerveja, e as imensas luzes a tua frente te engolem, nessa monstruosa cidade que parece te abduzir do mundo. O silencio da casa se mistura com o barulho do sabado badalado la fora. O vento frio se torna quente no teu rosto pálido. A cerveja eh a tua unica companhia. A tv ta ligada, a musica ta tocando, la fora as pessoas estão amando, se encontrando, mas voce ta parada.
Insatisfeita com a vida e comigo mesma. Ando comprando coisas inuteis demais, comprando coisas demais pra preencher um vazio interno que não precisa de esmalte, de hidratante perfumado ou de nenhuma outra coisa que se possa comprar pela internet.
Dizem que solidao eh o mal do seculo, concordo. Solidao eh ter uma familia,ter amigos, ter quem te quer bem e nao ter a si mesma. Solidão é viver numa sociedade cada vez mais superficial, cada vez mais consumista, que julga as pessoas pela aparência e pelo tanto de dinheiro. Solidão é o que move a internet hoje – e sempre. Solidão é a única razão pela qual os Orkuts, Facebooks e Twitters da vida se popularizam cada vez mais.
Temos mil amigos no Orkut, mas não achamos companhia pra assistir um filme no cinema quarta-feira à noite. Nos comunicamos com todo mundo do Facebook e “reativamos” amizade com pessoas com as quais mal falávamos “oi” dois anos atrás. Damos bom-dia no Twitter (um negócio onde se fala sozinho) e não damos bom-dia pro vizinho no elevador. Adicionamos Deus e o mundo no maldito MSN pra termos companhia e não perder o contato com aquela pessoa tão querida e amada com a qual trocaremos três frases ao longo do ano. Pessoas verdes online com as quais mantemos relações virtuais 24 horas por dia. Tudo muito superficial. Tudo muito virtual. Tudo fruto da nossa maldita carência, tão maldita quanto essas relações virtuais infundadas. Precisamos nos afirmar pro mundo e pra nós mesmos. Precisamos nos encaixar nos padrões atuais de pessoa bem-sucedida e amada pra sermos aceitos.
Mas o vazio continua lá, te fazendo companhia naquela imensa sacada vazia. Nas tardes de domingo. Nas compras virtuais cujo encantamento acaba assim que o produto chega à nossa casa. Esperamos encontrar a felicidade no Macbook novo, no celular com mil funções, nas novas cores de esmalte que são lançadas toda semana, nos hidratantes perfumados, nos xampus caros. Compramos pra ter companhia. Compramos pra preencher um vazio interno. O mesmo vazio que tentamos preencher com a cerveja gelada e a balada da noite. Tapamos o sol com a peneira. Tapamos nossos buracos com relacionamentos que não existem. Despistamos nossa carência aguardando um produto chegar pelo correio. Nos tornamos tão superficiais quanto nossas amizades virtuais. Nos tornamos tão efêmeros quanto os esmaltes da cor da moda. E continuamos nos sentindo vazios e solitarios. E trocando a cor do esmalte a cada semana.