Eu te odeio. Isso não é verdade, mas às vezes
acho que é. Não atendo o telefone quando você liga, embora queira falar
com você. Não te ligo, mesmo sendo isso a única coisa que quero fazer.
Não vou te procurar, embora todas as partes de mim queiram fazer isso.
Vou sentir raiva de você, vou querer te magoar, vou te afugentar porque
tenho medo que você se aproxime demais. Preciso da sua atenção
constante, seu apoio, mas os receberei com fria indiferença.
Terei ciúme da atenção que você dá para os outros, e terei raiva de você
por me ignorar. Vou me sentir bem carinhosa e próxima de você um dia,
somente pra ficar com raiva de você e querer te expulsar da minha vida
no dia seguinte.
Sofro de amnésia emocional, talvez eu tenha
sido sempre assim. Vejo cada evento, cada dia, cada conversa como evento
separado, sempre buscando sinais de que você possa vir me magoar.
Quando me sinto ignorada, fico com raiva e esqueço que no dia anterior
você me falou o quanto gostava de mim.
Sou um caos
inconsciente. Existe uma parte de mim que está feliz e confiante, e uma
outra parte que é insegura e carente. Esses dias, nunca sei que lado vai
vir à tona.
Cada vez que acho que as coisas estão sob
controle, que eu sei que você gosta de mim e me sinto bem com nosso
relacionamento, a dúvida e o medo voltam. Talvez com o tempo possam
sumir inteiramente, mas tenho minhas dúvidas. Basta aparecer um novo
relacionamento, um novo amigo, um novo dia, e tudo volta outra vez.
Você pergunta o que pode fazer por mim, e eu não sei o que lhe
responder. A minha parte carente quer sua atenção constante, precisa de
suas palavras e seus pensamentos, de sua presença. Mas sei que isso não é
resposta, preciso aceitar as limitações em nosso relacionamento. A
minha parte assustada que você fora da minha vida para facilitar as
coisas. A minha parte detestável quer te magoar porque acredita que você
me machucou.
Tudo que posso pedir é que você entenda, que não
desista. Vou lhe ignorar às vezes, posso ser grossa com você, posso
tentar magoá-lo. Posso me esconder de você e esperar que você me
procure, para que eu sinta que você realmente se importa comigo.
Não é justo fazer essas coisas com você, mas eu as farei. Não posso lhe
pedir para aguentar tudo isso, não é justo, e, não importa como eu aja,
gosto demais de você para lhe sujeitar a isso tudo. Mas você perguntou,
e é isso que tenho a lhe dizer.
Não gosto disso. Não gosto de
ser carente e perigosa. Não gosto de magoar as pessoas. Não gosto de ser
grossa e sarcástica com as pessoas que me cercam. Não gosto dessa parte
de mim. Durante muitos anos ignorei isso e fiz de conta que isso era
eu, mas entendi agora que eu estava errada. Isso não é eu – é uma falsa
identidade criada pra me proteger do mundo.
Não foi fácil
chegar a este entendimento, e talvez ainda não tenha aceito
inteiramente. Mas encontrei meu caminho, sinto que posso mudar e que
posso aceitar esse lado meu e impedi-lo de se tornar aquilo que sou. Não
vai ser fácil e não vai ser rápido, mas tenho fé que vou conseguir.
Talvez um dia eu me veja como a pessoa que você vê por trás das minhas
defesas, e talvez um dia vou permitir que os outros também vejam aquela
pessoa.
Isto é dirigido a você, mas você representa muitas
pessoas. As pessoas que estão próximas a mim agora. As pessoas das quais
eu quero estar próxima mesmo as tendo afugentado. Os amigos que afastei
no passado, os amigos que nunca perdoei e nunca permiti voltar para
minha vida, os amigos aos quais nunca tive a oportunidade de dizer essas
coisas. As pessoas que vou conhecer no futuro, as pessoas das quais vou
gostar até que novamente eu as empurre para fora da minha vida. A parte
de mim que ainda está tentando entender quem eu sou. Você é estas
pessoas todas e muitas mais, você é tudo.
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