Que mundo é esse onde alguém que invade sua casa, rouba seus bens materiais adquiridos com muito esforço, atira em quem bem entender, mata quem vier pela frente e assassina pobre criança male mal é punido? Isso se a polícia conseguir descobrir quem foi o infeliz que fez isso com você. Isso se ele não fugiu pra Austrália, Bélgica ou simplesmente tomou chá de sumiço. Porque se isso aconteceu, a única coisa que te resta é sentar e conforma-se com a política brasileira. Conformar-se com a perda do filho que levou um tiro sem querer, a irmã que ficou tetraplégica, ou a morte da mãe que não teve culpa de ter sido feita de vítima de um pobre-filho-da-puta que não tinha nada pra fazer e resolveu passar seu tempo divertindo-se do seu modo. SE forem pegos, cadeia ou responderiam em liberdade, caso contrário, continuariam brincando com humanos como se fossem bonecos do GTA, causando-lhe dores corporais imensuráveis.
Acredito que tomar uma surra de um boxeador deve doer menos do que ser traído. A dor física passa em algumas horas ou, em casos mais graves, alguns dias. Pra dor física, existe remédio. Pras feridas, existe curativo. Mas quem cura a dor de um coração destruído? Como se cura a dor de uma confiança perdida? O que fazer com as feridas cravadas na alma de alguém que sai na rua descrente do mundo? Como penalizar o agressor que, sem usar mãos, armas ou objetos cortantes e pontiagudos, causou ferimentos graves em alguém?
Qual a punição para aquele que entra na sua vida, faz-se dono dela, vira seu parceiro durante todos os dias, pra tudo. Vive com você durante anos, dorme na sua cama, come suas coisas, divide com você o seu quarto, os seus desejos, suas vontades, seus medos. Que faz você acreditar que será seu pra sempre, que existe amor eterno e que você é a mulher com quem ele viveria eternamente, mas simplesmente de uma hora pra outra cansou, virou as costas e foi-se embora. Por que ninguém previu isso na lei?
As pessoas lotam os consultórios psiquiátricos, se entorpecem de remédio pra ansiedade, remédio pra depressão, remédio pra pressão, remédio pra dormir, remédio pra acordar. Remédio pra viver. Pra fazer viver quem quer morrer. Remédio pro irremediável. Pra dor que não passa. Pra ferida que ninguém vê. Vãs tentativas de resolver o caos interno. As pessoas tentam remediar uma dor que parece que nunca vai ter fim, um sofrimento que vem de dentro. Bem fundo. Tão fundo que nenhum remédio ou substância tóxica é capaz de alcançar.
Entendo perfeitamente crimes passionais. Entendo perfeitamente quando minha amiga diz que não consegue conversar mais com o ex-namorado porque ela tem vontade de bater nele. Entendo meu amigo que diz que preferia ver a namorada morta do que com outro. Sinceramente, entendo. Quando alguém te machuca, te decepciona te magoa, a dor é tão grande que você quer agredir a pessoa de volta. Você se sente impotente. Enganado. Ferido. Frustrado. Dá vontade de matar. De morrer. De sumir. Seu mundo desaba bem na sua frente. Seu chão some. Você sente que perdeu seu tempo, sua vida, sua auto-estima, suas forças. E qual a pena pro agressor nesse caso? Qual a pena pra alguém que entrou na sua vida, na sua casa, nos seus sonhos, nos seus planos e, num piscar de olhos, destruiu tudo como se tivesse esse direito?
O que sempre penso inquieta aqui dentro, é que vingança não é remédio. Que dar o troco na mesma moeda não adianta. Nem fazer justiça com as próprias mãos. Acredito que o tempo se encarrega disso. Acredito que pessoas que usam da confiança e boa vontade das outras nunca vão conhecer o verdadeiro sentido da vida. Ou nunca vão conseguir amar de verdade. Ou sei lá o que. Nunca fui boa conselheira. Talvez essas sejam as formas da vida punir quem brinca com o coração dos outros. Não sei mesmo. Em todo caso, deseje o mal de volta pra pessoa. Não por vingança. Só pra ver se ela é forte como você. Mas depois que isso passar, lembre-se de desejar todo o bem do mundo. Pois você é forte, e não precisa desejar nada de ruim a ninguém que um dia te machucou. Você aprendera a conviver com a sua nova vida.
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